O barro é um material que se faz presente desde os albores da humanidade. Como Representação, foi visto inicialmente nas pinturas das cavernas ou nas vênus pré-históricas. Percorreu um longo caminho, para alcançar lugar e reconhecimento na Arte. Se na qualidade de cerâmica/terracota aparece na arte ocidental essencialmente em obras de artistas modernos, como barro cru/lama teve que esperar os anos 60 onde alcança a expansão dos limites clássicos e mesmo modernos da arte, nas tendências da body art, póvera, e land art. No Brasil Celeida Tostes com a proposta Passagem (1979), coloca ênfase no processo e na experiência com aproximação entre arte e vida.
LAMA origem, cura e [bio]-diversidade é o título da exposição cunhado pelo galerista e idealizador do espaço David Vieira. A lama para ele, está carregada desses conceitos.
“A lama que a princípio é tida como suja, mas ao se observar é a mistura de água e terra, dois elementos da natureza super puros, que em muitas teorias é a origem da vida, elemento de cura e na biologia um dos biomas mais ricos em biodiversiadade”. Em diversos contos e mitos e principalmente na teoria do criacionismo, onde o ser humano se origina da lama/barro. Por outro lado, a lama em sua pureza foi muito empregada para processos de cura, de limpeza de impurezas do corpo com o seu emprego comprovado historicamente por ter sido usado por Hipócrates, Gandhi, entre outros. Ainda hoje em processos terapêuticos, em tratamentos feitos com as argilas medicinais, a argiloterapia é uma vertente da medicina alternativa. Já a biodiversidade refere-se a todas as variedades e qualidades dessa mistura formada por terra, argila e água em nossa crosta terrestre, essencialmente aos mangues formados por solos lodosos –mangue vermelho, solos arenosos –mangue branco e outras tipologias. É dentro desse conceito que o espaço se propõe a valorizar a origem da existência, as experiências como processo de cura e a diversidade como fator essencial a inclusão, participação e criatividade.
A exposição que inaugura a Galeria LAMA, é composta por Vasos de parede em terracota, de Diego de Los Campos e fotografias de Lahana Amorim.
O barro/lama/terracota e Os corpos/corpas são elementos que agregam a exposição, em linguagens escultórica/fotográfica e performática.
O desenho, o humor, a crítica e um certo estranhamento estão na série de “Vasos de parede” que apresenta Diego de los Campos. A argila como suporte possibilita a fluidez do desenho modelado dos rostos com uma rapidez do gesto, também visto em outros trabalhos do artista. A vegetação que integra as esculturas-vasos, rememora ainda o caráter utilitário da cerâmica.
Já na série de fotografias de Lahana Amorim, os corpos/corpas e a lama criam uma atmosfera intimista, em contato com as origens. Os sentidos ativados no instante da entrega - à terra, aos cheiros, aos sons e aos toques -, revelam-se em cada imagem, que segundo a fotógrafa [procurou] “traçar um caminho que capturasse não apenas imagens, mas a essência daquele potente momento. Registros de uma vivência na qual encontraram “no barro [...] a matriz primordial da existência, onde as feridas do presente e do passado transmutaram-se em um intricado momento de cura coletiva.” O real manifestado nessas imagens convidam o espectador a vivenciar o tempo da experiência.
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